Aide Memoire Nº 1694 | 05 de abril
- Por: Juliane
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CARLOS GERALDO LANGONI
O IMPACTO MACRO DA PREVIDÊNCIA
A pergunta relevante não é apenas quanto o país pode crescer com a aprovação da reforma, mas também estimar as graves consequências na hipótese dela ser adiada ou diluída.
Fizemos algumas simulações considerando apenas o efeito de 1ª ordem do déficit da Previdência sobre a taxa de investimento.
Cenário básico:
Reforma aprovada até agosto com potencia fiscal de R$ 1 trilhão em 10 anos: é o projeto oficial.
A taxa de investimento avança do patamar atual de 16% do PIB para 22% ao longo dos próximos anos, duplicando o PIB potencial, que passaria de 2% para 3 / 4%.
Esse salto no investimento é explicado pela queda acentuada na percepção de risco-país, acompanhando a estabilização e posterior queda na relação-chave de solvência interna - dívida bruta / PIB atualmente na faixa de 76%.
O Brasil deverá recuperar o status de grau de investimento. Como consequência, os juros reais de equilíbrio caem para 2 / 3%, beneficiados também pelo aumento contínuo da poupança doméstica de longo prazo - hoje no modesto patamar de 14% do PIB. Esse avanço será ainda maior se for aprovada a opção pelo regime de capitalização.
Merece destaque a expectativa de forte ingresso dos capitais externos de longo prazo (IDE), que deverá superar a marca histórica de US$ 100 bilhões.
Além do fator risco, há o estímulo adicional representado pela modernização dos marcos regulatórios, especialmente no setor de infraestrutura.
Cenário diluição:
A reforma é aprovada somente no final do ano e sua potência fiscal é reduzida pela metade.
A relação dívida bruta / PIB sustenta trajetória de crescimento, ainda que num ritmo mais lento.
A percepção de risco mantém-se desfavorável com viés de alta nos spreads do CDS (atualmente cerca de 250 pontos-base) e nos juros reais de equilíbrio.
A taxa de investimento permanece estável no patamar atual de 16% e não há perspectiva de ganhos significativos na poupança doméstica.
Esse alto nível de incerteza prolonga o status de relativa estagnação, com o PIB evoluindo em ritmo lento, na faixa de 1% a 2%.
O mercado de trabalho continua fragilizado com a taxa de desocupação de dois dígitos, limitando a mobilidade social e aprofundando as desigualdades.
Cenário de Crise:
Caso haja impasse que adie a reforma ou desidrate ainda mais sua potencia fiscal, a recaída recessiva será inevitável .
As decisões de investimentos e os planos de consumo seriam revistos e congelados, derrubando o PIB potencial para o terreno negativo -1 / -2%.
A perspectiva de insolvência interna alimentada pela tendência explosiva da relação dívida bruta / PIB provocaria deterioração no risco-país com elevação nos spreads de CDS (superam os 500 pontos-base) e expressiva alta nos juros reais de equilíbrio (acima de 5%).
Esse tsunami de incertezas provocaria fuga maciça de capitais, reforçando o viés de desvalorização cambial com impacto negativo sobre as expectativas inflacionárias.
O resultado final seria a combinação nefasta entre recessão e inflação, conhecidos ingredientes para exacerbar a crise social.
O ajuste fiscal acabaria sendo feito de forma compulsória nesse ambiente desfavorável, com custos econômicos bem mais elevados do que na conjuntura atual.
Em resumo, a postura de alguns partidos de dificultar ao máximo a trajetória da reforma no Congresso eleva a tensão política e alavanca os níveis de incerteza provocando forte alta nos juros futuros.
A consequência é a continuidade do ritmo lento da atividade: a produção industrial em fevereiro manteve-se no modesto nível de 0,5% em 12 meses. Até a definição final deste crucial embate político, o cenário de prolongada estagnação vai se consolidando.