CARLOS GERALDO LANGONI

ESTRESSE

Após o pico de novembro, os índices de confiança calculados pela FGV mantêm tendência de queda.

É a contaminação da onda de incerteza política envolvendo a tramitação no Congresso da reforma da Previdência.

Risco:

Esse clima desfavorável se reflete no viés de desvalorização cambial: o dólar aproximou-se da barreira emblemática de 4 reais.

Esse movimento não é justificado por fundamentos econômicos. Apesar de alguma desaceleração nas exportações, o déficit em conta-corrente permanece estável em patamar baixo (0,74% do PIB).

Continua sendo financiado confortavelmente por capitais de longo prazo: o investimento direto estrangeiro, apesar de todas as tensões, atingiu o valor expressivo de US$ 88,5 bilhões em 12 meses.

Ou seja, parece estar ocorrendo importante assimetria na percepção de risco: no curto prazo, há peso desproporcional do fator político.

Já na análise de mais longo prazo predominam as oportunidades de investimento, especialmente nos setores de infraestrutura.

Cenário Externo:

A economia mundial não ajuda, com o processo em marcha de desaceleração sincronizada.

Há o impacto negativo do renovado protecionismo: as dificuldades com o Brexit e as questões geopolíticas no Oriente Médio pressionam o preço do petróleo.

Essa deterioração, mesmo gradual, sinaliza a necessidade de apressar o passo na implementação da agenda de reformas.

O desafio é elevar o grau de eficiência na articulação política para superar as resistências do Congresso, evidenciadas na Comissão de Constituição e Justiça.

Transição:

Se esta volatilidade é transitória, não se justificaria maior dosagem de intervenção do BC no mercado de câmbio.

A estratégia, até agora, é orientar a política de juros pelas expectativas inflacionárias. E elas continuam ancoradas: o IPCA projetado pelo mercado para este e o próximo ano permanece na faixa de 4%.

A aprovação da Previdência, sem expressiva desidratação, ainda é o cenário básico para o 2º semestre.

O resultado deverá ser mudança para viés de valorização cambial, acompanhado de substancial melhora na aversão ao risco.

Em resumo, a economia atravessa período delicado de piora nos índices de confiança. A principal explicação são as tensões políticas que contaminam negativamente as expectativas.

As contas externas permanecem sólidas e, por si só, não justificam a escalada do dólar.

A não ser que haja contínua deterioração na economia mundial, tudo indica que se trata de fenômeno transitório e que a correção dos excessos (overshooting) deverá ocorrer já no 2º semestre.

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