Aide Memoire N° 1705 | 24 de junho
- Por: Juliane
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CARLOS GERALDO LANGONI
GERENCIANDO EXPECTATIVAS
A economia brasileira mantém tendência de desaceleração: o Monitor do PIB da FGV recuou em abril, a terceira retração consecutiva.
Por outro lado, as projeções do mercado continuam sendo revisadas para baixo, apontando para crescimento, neste ano, abaixo de 1%.
Expectativas:
Esse cenário de crescente fragilidade explica a aposta em novo ciclo de corte na taxa básica: a SELIC foi estimada em 5,75% em dezembro.
Essa aposta na flexibilização monetária está fundamentada na ancoragem das expectativas: o IPCA deve permanecer na faixa de 4% - abaixo da meta oficial - nos próximos anos.
É reflexo do expressivo hiato de produto, com a existência de margens generosas de capacidade ociosa, que permitem acomodar a retomada da atividade sem grandes pressões inflacionárias.
Modelo:
Há também, implicitamente, o entendimento de que o novo padrão de crescimento será liderado pelo investimento privado e alavancado por ganhos de produtividade.
A abertura da economia viabiliza um modelo competitivo, que permite conciliar expansão com inflação baixa.
A redução esperada no custo da energia, a partir da liberalização do mercado de gás, é importante exemplo de um choque positivo do lado da oferta que poderá ser replicado em outros setores.
Finalmente, deve-se esperar a contribuição da política fiscal restritiva, apoiada em cortes estruturais de gastos e simplificação tributária.
Timing:
Há, ainda, sinalização da redução de juros pelo Fed, reforçando o viés de apreciação cambial - o dólar está projetado em 3,80 para dezembro - outro fator de peso na formação de expectativas inflacionárias.
Este cenário interno e externo favorável aponta para queda esperada nos juros reais de equilíbrio da economia brasileira.
Já houve corte expressivo da ordem de 50% a partir do patamar de 6 / 7% observado em 2015. Foi o impacto da redução do risco político, após o impeachement de Dilma, a eleição de Bolsonaro e, principalmente, o abandono da heterodoxia.
A dúvida é apenas timing: o BC deve aguardar a exata dimensão da potência fiscal associada às reformas ou já existem condições objetivas para antecipar a flexibilização monetária ?
A resposta veio com a decisão do COPOM. O BC decidiu, por unanimidade, adotar postura mais conservadora, mantendo a SELIC em 6,5%, o mesmo patamar alcançado em março de 2018.
Ou seja, apesar do comportamento benigno da inflação corrente e futura, a incerteza em relação à natureza e profundidade do ajuste fiscal influenciaram na decisão de adiar o ciclo dos cortes.
Em resumo, a política monetária ainda não será ativada para estimular a retomada, apesar de todos indicadores de fragilidade.
Mesmo com a situação confortável da inflação e menores tensões externas, o BC enfatizou que a queda dos juros estruturais ainda depende da efetiva implementação da agenda de políticas liberais.
Desta forma, é razoável antecipar que o corte na taxa básica de juros só deverá iniciar-se a partir da aprovação da reforma da Previdência, mesmo assim se não for desidratada pelo Congresso.