100 dias de governo Milei na Argentina
"Todos os começos de governo são diferentes. É o momento de ocupar espaços e de levantar bandeiras. 100 dias é o tempo usado como indicador antecedente do que pode ser um novo governo. Neste caso, Javier Milei apresenta o que é razoável esperar nos próximos anos: um tudo ou nada.
Foi o presidente que assumiu com a pior herança da história argentina: uma hiperinflação em gestação, a figura presidencial desacreditada, sem reservas internacionais, o dólar em alta, corrupção endêmica, investimento baixo, fuga de capitais, o governo sem capacidade fiscal e a “casta” – políticos e funcionários públicos com privilégios incabíveis.
A Argentina precisava reinventar-se urgentemente e é o que Milei está tentando fazer. Acertou com um gabinete de técnicos capazes, seguiu o ensinamento de Machiavel, de que o mal se faz de uma vez, e apresentou uma agenda transformadora com princípios liberais, evocando a política econômica argentina da segunda metade do século XIX.
Não tem apoio de governadores, nem de deputados e nem de senadores, mas não aceitou o toma lá dá cá tradicional na política argentina. Não conseguiu aprovar o projeto inicial de mudanças no Congresso Nacional. Em vez disso, propôs o Pacto de Maio. É uma convocatória para um acordo nacional de estabelecer 10 políticas de estado liberais.
É uma mudança de paradigma: equilíbrio fiscal, redução do gasto público a 25% do PIB, pacto federativo, reformas tributária, trabalhista, da previdência e política, e redução de privilégios da “casta”. Eliminou subsídios, está usando a inflação para reduzir dívida pública e salários reais, aposentadorias e funcionalismo, e cortando gastos públicos – obras e custeios.
O remédio aplicado está dando certo, por enquanto. O risco de hiperinflação desapareceu, as reservas internacionais aumentaram, o dólar paralelo se estabilizou, o risco país despencou, o país teve o primeiro superávit fiscal em doze anos, a bolsa de valores disparou e o apoio popular a seu governo se mantem elevado.
Está numa corrida do tempo econômico contra o tempo político. Mercados não se ajustam instantaneamente. Está numa zona perigosa com custos políticos aumentando e sem que os benefícios dos ajustes se consolidem. O objetivo é manter o apoio popular e ao mesmo tempo continuar a aplicar remédios amargos. É difícil, mas é possível.
Há uma série de “se” a superar. Se a recessão não se prolongar demais, se a abertura não quebrar muitas empresas, se o encolhimento do estado não tiver custos sociais muito elevados, se não houver um repique da inflação e se o desemprego não disparar. Se conseguir superar os “se”, será uma revolução. Se não o remédio para a Argentina vai virar veneno.
Todos torcemos para que vença Milei. Há indicações, não certeza, de que sim. Se ele conseguir, ajudará o Brasil de duas maneiras, uma é que a Argentina mais próspera importará mais bens e serviços brasileiros; outra é que como os desafios são parecidos, o exemplo lá ajudará a iluminar a política econômica aqui. Vai Argentina!"
Escrito e publicado por Roberto Luis Troster