Presidente da Câmara Brasil-Argentina, Federico A. Servideo, dá entrevista ao site 6minutos sobre a crise na Argentina
- Por: Juliane
- Acessos: 1192
Acuadas pela crise, companhias argentinas de infraestrutura com filial no Brasil estão planejando transferir recursos e funcionários para cá como forma de compensar as perdas no país vizinho. Segundo o presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira e sócio da consultoria PwC Federico Servideo, esse é o caso de empresas de segmentos como engenharia, construção, serviços associados à indústria do petróleo e de telecomunicações.
“As poucas empresas argentinas que estão em setores que possuem um futuro razoável aqui no Brasil estão olhando o país como uma fonte importante para equilibrar o desempenho baixo da economia argentina”, afirma.
Na avaliação de Servideo, as empresas brasileiras com exportações significativas para a Argentina terão que buscar outros mercados, pelo menos no curto prazo. Neste ano, no acumulado de janeiro a julho, as vendas do Brasil para o país vizinho caíram 40%. A participação argentina na balança comercial brasileira caiu de 7,6% para 4,6%.
Quer saber mais? Leia abaixo a entrevista de Servideo ao 6 Minutos sobre a crise no país vizinho.
Qual o impacto do pedido de renegociação da dívida argentina ao FMI (Fundo Monetário Internacional)?
A intenção do governo Macri com essa medida de reprogramar ou alongar os prazos de pagamento é tentar conter a crise cambial e financeira, já que a Argentina não tem dólares atualmente para atender a demanda. É uma medida para proteger as reservas internacionais da Argentina em meio a uma campanha eleitoral prolongada (o primeiro turno da eleição presidencial argentina acontece no próximo dia 27 de outubro).
No curto prazo, há incertezas, muita volatilidade, muita contradição e muito pouca previsibilidade do que possa acontecer. Mas é uma tentativa de estabilização para que a transição seja mais tranquila. Com essa medida, parte substancial dos vencimentos de dívida de curto prazo que iriam acontecer até dezembro foi postergada. Com isso, a tendência é que menos investidores troquem seus títulos por dólares.
Mas o simples aviso de que não há dinheiro para os pagamentos não pode ter papel oposto, estimulando a busca por dólares em um momento de crise?
Há duas leituras para o que aconteceu. Uma, mais positiva, é que o governo não vai entrar em default (calote), pois com essa medida estou postergando, mas respeitando, o capital devido e o pagamento de juros.
Há outra leitura, negativa, de que esse é o primeiro passo para um eventual default. O que está claro a partir de agora é que, seja o governo Macri seja a oposição que ganhe as eleições, haverá medidas para controlar parcialmente capitais e câmbio para reduzir a volatilidade e a entrada e a saída de capital do país. Tudo se encaminha para haver algum grau de controle sobre a economia.
Quais os efeitos que o pedido de renegociação de prazos pode ter sobre a relação comercial da Argentina com o Brasil?
Ao longo de todo o ano de 2019, a relação comercial entre os dois países foi fortemente afetada pela crise. Neste ano o fluxo comercial será muito baixo, e não esperamos uma recuperação significativa. A indústria automobilística, por exemplo, continuará a ser afetada, e os brasileiros terão que buscar outros mercados para compensar a queda no curto prazo. Dificilmente a Argentina terá alguma recuperação no resto deste ano.
Quais os setores que mais exportam para a Argentina?
s exportações para a Argentina se concentram nos setores automotivo, petroquímico e na agroindústria. O primeiro e o segundo já estão afetados e continuarão sendo afetados, porque o consumo não vai se recuperar rapidamente no resto do ano.
A situação deve piorar?
Não deve piorar, estamos nos mínimos históricos. Mas também não vai melhorar.
Como está a visão das empresas argentinas com filiais no Brasil? O Brasil se torna mais interessante para essas empresas?
É difícil ter uma resposta para todos os setores, mas as argentinas que atuam em infraestrutura estão movimentando esforços de lá para cá. As poucas empresas argentinas que estão em setores que possuem um futuro razoável aqui no Brasil estão olhando o país como uma fonte importante para equilibrar o desempenho baixo da economia argentina. São empresas de infraestrutura, como engenharia, construção, serviços associados à indústria do petróleo, indústria de gás, telecomunicações e saneamento básico.
Link: