Conjuntura do Agronegócio

1. China e EUA discutem próxima etapa de negociações comerciais

A China e os Estados Unidos discutiram na terça-feira o roteiro para o próximo estágio de suas negociações comerciais, durante uma ligação telefônica entre o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, e o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer.

Neste mês, os presidentes Donald Trump e Xi Jinping concordaram com uma trégua que adiou o aumento planejado para 1 de janeiro das tarifas dos EUA de 10 por cento para 25 por cento sobre 200 bilhões de dólares em produtos chineses.

Lighthizer afirmou no domingo que, a menos que as negociações entre EUA e China se encerrem com êxito até 1 de março, novas tarifas serão adotadas.

Em um breve comunicado, o Ministério do Comércio da China afirmou que Liu conversou com Mnuchin e Lighthizer nesta terça-feira no horário de Pequim, em uma ligação pré-arranjada.

"Ambos os lados trocaram opiniões sobre colocar em vigor o consenso alcançado pelos líderes dos dois países na reunião, e sobre avançar com o cronograma e roteiro para a próxima etapa do trabalho de consultas econômicas e comerciais", disse o ministério, sem dar detalhes.

Um porta-voz do Tesouro dos EUA confirmou a ligação com Liu, mas não deu mais detalhes. O gabinete do representante de Comércio dos EUA não respondeu imediatamente.

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Fonte: Reuter/Notícia Agrícolas

2. Cresce dependência do agronegócio brasileiro das importações chinesas

Alimentar os chineses é um bom negócio para o país, mas a dependência que o agronegócio brasileiro tem dos asiáticos cresce ano a ano.

De janeiro a novembro, os chineses elevaram em 32% as compras de soja do Brasil. Nesse mesmo período, as importações de carnes cresceram 48%, as de celulose, 60%, e as de algodão, 139%.

De cada 100 quilos de soja que o Brasil exportou, 82 quilos saíram dos portos brasileiros em direção à China. O país asiático levou 65 milhões de toneladas da oleaginosa.

Há quatro anos, a participação dos chineses nas exportações brasileiras de soja era de 72%. A deste ano já atinge 82%, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Em um ano de produção e de exportações recordes, o Brasil já colocou 80 milhões de toneladas de soja no mercado externo. Até o fim do ano, as vendas externas deverão somar 83 milhões.

Enquanto a participação da China no produto brasileiro cresce, a da União Europeia, o segundo maior mercado para o Brasil, está estável. Os países do bloco europeu importaram 5 milhões de toneladas no ano.

Até novembro, os chineses deixaram US$ 26 bilhões no país com as compras de soja em grão, de farelo de soja e de óleo. As receitas totais do país com esses produtos somaram US$ 39 bilhões.

Os chineses abocanham também uma fatia maior da carne brasileira. Nos 11 primeiros meses deste ano, as exportações dessas proteínas para o país asiático somaram US$ 2,4 bilhões, 48% mais do que em igual período de 2017.

Embora com receitas menores do que a das outras carnes, a suína teve a maior evolução no ano, aumentando em 238%. A peste suína africana, que afeta várias das principais regiões produtoras de suínos, obrigou o país a acelerar as importações.

A carne bovina também ganha espaço, com aumento de 66% no ano. A China importou o correspondente a US$ 1,4 bilhão desse produto do Brasil. As exportações de carnes de aves também crescem, somando US$ 740 milhões, mas apenas 4% acima das de 2017.

As exportações brasileiras dessa proteína para a China devem crescer no próximo ano. É a carne que melhor substitui a suína, que está ficando mais cara e com demanda menor, devido aos problemas sanitários no país asiático.

A China leva, ainda, 42% da celulose brasileira. Neste ano, os chineses gastaram US$ 2,84 bilhões com a compra desse produto. Nesse caso, a Europa também tem uma boa participação no produto brasileiro, ao ficar com 32%.

Os chineses avançaram também nas compras de milho brasileiro neste ano, mas o volume foi insignificante em relação aos 220 milhões de toneladas que eles consomem.

Há cinco anos, 25% dos alimentos exportados pelo Brasil iam para a China. Neste ano, o percentual atinge 38%, devido ao peso da soja e crescimento das carnes.

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Fonte: Folha de São Paulo/UDOP

3. Balança tem superávit de US$ 2,019 bi na primeira semana de dezembro

A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 2,019 bilhões na primeira semana de dezembro. O valor é resultado de exportações de US$ 5,667 bilhões e importações de US$ 3,649 bilhões no período. No acumulado do ano, o saldo comercial está positivo em US$ 53,677 bilhões.

De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), a média diária de exportações subiu 28,8% na primeira semana do mês, quando comparada a dezembro de 2017.

O salto decorre da alta nas vendas das três categorias de produtos. Puxado por soja, algodão e milho, o embarque de itens básicos avançou 46,1% para US$ 531,4 milhões em média, por dia. As vendas de semimanufaturados cresceram 33,3% para US$ 174,9 milhões, com destaque para celulose, ferro-ligas e ferro fundido bruto. Já a exportação de manufaturados subiu 17,2% para US$ 427 milhões, liderada por aviões, papel para fabricação de papel higiênico, lenço ou toalha e suco de laranja.

A média diária de importações também subiu 15,9% na primeira semana de dezembro, em relação ao mesmo mês do ano passado, para US$ 729,7 milhões. Nesse comparativo, aumentaram os gastos, principalmente, com adubos e fertilizantes (+120,2%), bebidas e álcool (+74,2%), alumínio e suas obras (+59,2%), leite e derivados (+58,6%) e siderúrgicos (+52,0%).

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Fonte: Valor Econômico

Insumos

4. Projetos levam conexão ao campo

O agronegócio tornou-se o centro das atenções dos projetos relacionados à internet das coisas (IoT, na sigla em inglês). Grandes empresas vêm formulando parcerias com o objetivo de levar conectividade ao campo, desenvolver aplicações e automatizar a coleta de dados gerados em tempo real para sustentar a tomada de decisões.

Desse movimento participam as operadoras de telefonia celular, que vislumbram no atendimento da demanda do agronegócio a oportunidade de estender a cobertura da rede 4G para regiões sem grande densidade populacional, fabricantes de equipamentos de telecomunicações e provedores de soluções baseadas em IoT.

A TIM firmou dois contratos para levar o sinal 4G à área de produção de dois gigantes do setor, como parte do projeto TIM no Campo: a Jalles Machado, do ramo sucroalcooleiro, em Goianésia (GO), e a SLC Agrícola, cuja Fazenda Panorama, em Correntina (BA), produz soja e algodão.

Os projetos contemplam o fornecimento de dispositivos móveis e a montagem da infraestrutura de rede que permitem substituir apontamentos manuais por apontamentos on-line, gerar informações em tempo real a partir de diferentes sensores e máquinas agrícolas e melhorar a comunicação entre a área de produção e o escritório.

O projeto TIM no Campo surgiu para suprir a necessidade de um setor que sustenta o país, diz Paulo Humberto Gouvêia, diretor de grandes contas corporativas da TIM. "O agronegócio está ganhando cada vez mais eficiência, mas precisa de conectividade", diz ele.

Um dos fatores que têm contribuído para estimular o desenvolvimento de soluções de IoT para o agronegócio é a indisponibilidade de informações em tempo real para tomar decisões. "Tudo no setor é feito de forma empírica, com base na experiência das pessoas que trabalham no ramo", diz Rafaela Manciolha, líder de transformação digital da Logicalis.

O desafio é fazer com que todas as ações sejam amparadas na análise de dados confiáveis. Por isso, a Logicalis e a AgroToos desenvolveram uma nova plataforma de coleta e tratamento de informações oriundas de diversas fontes da agroindústria.

Um exemplo de aplicação, segundo Rafaela, é a melhoria da previsão meteorológica, para mitigar os riscos à produção decorrentes do excesso de chuva, estiagem, seca e geada. "Grande parte da sinistralidade de seguros em grãos no Brasil acontece por causa de eventos climáticos", diz.

Comercializada no mercado na modalidade de serviço, a nova plataforma é utilizada por uma cooperativa (para gestão, manejo e predição de território) e por uma seguradora (para redução de sinistros). A partir do próximo ano entrará em operação comercial o programa Conectividade Rural, fruto de um acordo entre a John Deere e a Trópico. O objetivo é instalar torres de transmissão do sinal 4G, com frequência de 250 MHz, em áreas rurais que não têm sinal de celular.

Trata-se de uma licença privada, explica Rois Nogueira, gerente de soluções integradas da John Deere. Além de equipamentos e infraestrutura de conexão, a oferta inclui um pacote de softwares para gerenciamento de rede, soluções de telemetria, sistemas de gestão de frotas, software de gestão de dados agronômicos e aplicações para dispositivos móveis e plataforma web.

A John Deere aposta no incremento das vendas de máquinas e implementos agrícolas com a implementação do programa Conectividade Rural. "Essa oferta fará com que a experiência dos clientes com as nossas soluções sejam mais positivas", afirma Nogueira.

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Fonte: Valor Econômico

5. Startups avançam com monitoramento agrícola

As pequenas empresas de base tecnológica (startups) largaram na frente na corrida para a exploração do rico filão do gronegócio. Com soluções que monitoram grandes extensões áreas agrícolas, muitas delas fazem planos de internacionalizar a operação. A Agrosmart, que tem uma subsidiária nos Estados Unidos e atua em nove países, pretende marcar presença em 80 países até 2020. No Brasil, no período, a meta é aumentar a área monitorada de 210 mil para 1 milhão de hectares.

A plataforma desenvolvida pela empresa soma mais de 30 mil sensores conectados para coleta de dados em tempo real na área de plantio, que são processados e utilizados para referendar ações relacionadas à irrigação, metereologia, controle de doenças e pragas, escolhas de sementes. Nas propriedades que não têm conexão com internet, a Agrosmart inclui na oferta uma rede de comunicação de radiofrequência de longo alcance, para permitir a transmisão dos dados dos sensores até o escritório da fazenda.

De acordo com Mariana Vasconcellos, CEO da empresa, o uso da plataforma muda o modelo de aplicação de defensivos agrícolas, que passa a ser feito apenas nas áreas com risco de doença. "É um modelo mais assertivo", diz. Hoje, esse procedimento é agendado e feito de forma generalizada.

A empresa é parceira da Embrapa em um projeto de pesquisa que resultou no desenvolvimento de aplicações que permitem ao agricultor antecipar em até sete dias a presença de ferrugem na plantação de café, agir preventivamente e reduzir os custos com insumos.

A Netword Agro lançou no início do ano uma plataforma que faz dois tipos de monitoramento: de medição dos nutrientes do solo, para definir a quantidade de fertilizantes ideal para alcançar a produção desejada pelo agricultor, e de identificação de pragas, doenças e ervas daninhas nas plantas.

Para o monitoramento do solo são utilizados sensores de proximidade na área de plantio. Segundo Marcos Ferronato, CEO da Netword Agro, os fertilizantes são aplicados conforme a concentração de nutrientes e não pela média, como acontece no método tradicional. A empresa monitora a safra de soja de 14 propriedades rurais de municípios do entorno de Palotina (PR), totalizando 1 mil hectares.

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Fonte: Valor Econômico

6. Caminhão: para driblar greve, empresas e cooperativas montam frotas

A greve dos caminhoneiros deflagrada em todo o território nacional no final de maio de 2018 ainda repercute em alguns segmentos. O agronegócio é um deles. O setor foi um dos mais afetados pela imposição de uma tabela de preços mínimos para os fretes rodoviários, uma das condições do movimento para pôr fim à paralisação que durou 11 dias. Em função disso, é crescente o número de cooperativas e empresas agropecuárias que planejam ampliar a frota própria de caminhões.

"A maior parte das cooperativas está estudando essa possibilidade, que ainda não se concretizou totalmente porque o setor está esperando uma posição do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à constitucionalidade da tabela. E por não haver disponibilidade de entrega de caminhões no curto prazo pelas montadoras, apenas para o segundo semestre de 2019”, diz Nelson Costa, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná(Ocepar).

Com frotas próprias maiores, as empresas pretendem driblar a incerteza jurídica que se instalou no país após o tabelamento do frete, que aumentou o custo de produção do agronegócio de 50% a 120% com as despesas de transporte.

Simulações feitas pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) em junho de 2018 indicavam, por exemplo, que entre Sorriso (MT) e Santos (SP), cujo percurso é de 2.064 km, o frete à época que era de R$ 290,00 por tonelada. Com a tabela, o preço subiria para R$ 437,55 por tonelada (51% a mais). Além disso, no caso não de haver frete de retorno, o acréscimo em relação ao valor praticado seria de 120%, ou frete de R$ 748,00, por tonelada.

Décadas atrás, as empresas agropecuárias atuavam com veículos próprios. Mas a profissionalização do agronegócio fez com que focassem apenas na sua atividade principal, terceirizando outras tarefas, como o transporte.

“Ainda assim, tanto as empresas agropecuárias quanto as cooperativas mantiveram uma frota que responde entre 25% a 30% das suas necessidades. Agora a intenção é aumentar a quantidade de veículos próprios”, conta Costa.

Maior cooperativa agrícola da América Latina, a Coamo, com sede no município de Campo Mourão, já adquiriu 150 novos caminhões. Outros 150 deverão ser adquiridos ao longo de 2019. Diversas empresas estão seguindo pelo mesmo caminho. A JBS, por exemplo, adquiriu 360 veículos logo após a greve, em junho de 2018. A Cargill sinalizou que pretende fazer o mesmo.

Esse movimento do agronegócio tem contribuído para elevar as vendas de caminhões pesados no País, que, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), cresceram 87% entre janeiro e novembro de 2018 sobre igual período do ano anterior. O modelo de veículo mais utilizado pelas empresas do setor é o bitrem, que custa, em média, R$ 600 mil.

No início do mês de dezembro, o ministro do STF Luiz Fux suspendeu as multas para empresas que não cumprem a tabela de preço mínimo para o frete, atendendo a um pedido formulado pela CNA. A decisão, para Rudy Ferraz, chefe da assessoria jurídica da entidade, devolve a segurança jurídica para a cadeia do agronegócio.

O impasse, entretanto, está longe de ser resolvido, já que o STF ainda não decidiu sobre a constitucionalidade da tabela. Além disso, a ampliação da frota brasileira pode comprometer ainda mais o equilíbrio do mercado nacional, ao passo que contribuirá para a formação de um excesso de oferta de caminhões no mercado interno, preveem analistas.

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Fonte: Canal Rural

Proteína Animal

7. Nova referência para preço do leite em MG

Maior produtor de leite do Brasil, Minas Gerais terá a partir do próximo ano um novo sistema de preços de referência par o alimento. O cálculo será feito por um grupo de acadêmicos e deverá nortear laticínios em relação aos valores a serem pagos aos produtores no Estado. A expectativa de quem está no campo é que a indústria passe a pagar mais pelo leite, sem que esse aumento chegue ao consumidor.

O cálculo dos preços de referência - dos leites de qualidade intermediária, superior e inferior - será feito por uma entidade que será oficialmente formada esta semana, o Conseleite. Será um conselho com representantes dos criadores de gado leiteiro, de cooperativas de leite e dos laticínios que operam no Estado.

Dois professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) terão a tarefa de analisar mensalmente os custos dos laticínios e os custos de produtores de distintos perfis. Vão agregar essas informações a dados do mercado e calcular preços referenciais para o leite a ser pago ao produtor.

Os preços devem começar a ser anunciados em fevereiro ou março do próximo ano. Será um valor de referência para o mês corrente e outro para mês seguinte.

O primeiro Conseleite do país foi criado no Paraná em 2003, e depois vieram os do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A ideia foi motivada por suspeitas constantes dos fazendeiros de que laticínios os exploravam, pagando preços aviltantes pela matéria prima.

Para a instalação do Conseleite em Minas Gerais, duas dezenas de laticínios do Estado, com portes e produtos variados, já repassaram, sob condição de sigilo, seus números para o grupo de acadêmicos. A ideia é que essa amostra reflita a realidade dos aproximadamente 800 laticínios mineiros.

Nenhum laticínio estará obrigado a pagar aos criadores de gado leiteiro os valores apontados como referência. Mas Celso Costa Moreira, diretor executivo da entidade que representa a indústria em Minas, o Silemg, diz que certamente todos passarão a levar os números em conta e que serão preços que a indústria poderá suportar. De acordo com ele, o Conseleite terá um impacto na qualidade do produto mineiro.

"Hoje muitos laticínios que não são tão exigentes pagam pelo leite com mais ou menos qualidade o mesmo valor", afirma Moreira. "Com o Conseleite, teremos o preço do leite padrão e o produtor com leite de melhor qualidade receberá um valor maior, e vice-versa." Ele aposta que isso será um estímulo decisivo para o aumento da qualidade de toda a cadeia leiteira em Minas Gerais. E que abrirá mais portas do mercado externo para derivados de leite do Estado.

Minas Gerais produz ao ano cerca de 9 bilhões de litros de leite - quase um terço de toda a produção nacional. São 223 mil produtores. O faturamento anual dos laticínios é de R$ 10,5 bilhões.

O que tem servido de referência para os preços pagos aos produtores mineiros é o índice calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), da USP. O Cepea usa informações de cooperativas e laticínios. Mas produtores de Minas Gerais afirmam muitas vezes que o índice é insuficiente como fonte de referência.

Um dos objetivos do Conseleite em Minas é que produtores, cooperativas e laticínios passem a ter uma referência calcada em informações mais detalhadas do Estado e que todos referendem.

"Acredito que os novos preços de referência no Conseleite serão acima dos preços que o Cepea tem publicado", diz Eduardo Pena, presidente da Câmara Técnica da Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). "Vamos poder cobrar preços melhores da indústria, mas vamos também que cumprir contrapartidas", afirma referindo-se à qualidade.

Os acadêmicos que estão envolvidos na implementação do Conseleite mineiro são José Roberto Canziani e Vânia Guimarães - ambos professores do Departamento de Economia Rural da UFPR - e Fernando Curi Peres, professor aposentado da USP.

Canziani disse ao Valor que avalia que no curto prazo, os novos preços de referência poderão fazer com que os milhares de pequenos produtores de Minas, que hoje não têm muita informação nem muitos argumentos para discutir com laticínio para o qual fornece, passem a receber um valor maior pelo seu leite.

Para ele, nesse primeiro momento, a indústria talvez reduza um pouco o valor pago ao grande produtor - remunerando de forma mais equilibrada seus fornecedores. São ajustes na cadeia, mas que nada afetam o preço ao consumidor, afirma. No médio prazo o que se espera é que todo o setor de leite em Minas ganhe e que a produção possa aumentar", afirma o acadêmico.

Notícia na ítnegra

Fonte: Valor Econômico

8. Peste suína africana na China valoriza exportação do Brasil

O surto de peste suína africana que atingiu a China e já levou ao sacrifício de cerca de 600 mil animais já teve reflexos para a indústria brasileira. O preço da carne suína exportada pelo Brasil teve forte valorização em novembro, no que pode ser o início de um movimento intenso que poderá se estender ao longo de 2019 e impulsionará a rentabilidade dos frigoríficos.

De acordo com dados divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) na semana passada, o preço médio da carne suína in natura exportada pelas empresas do país atingiu US$ 1.855 por tonelada em novembro, aumento de 3,5% em relação ao preço médio de US$ 1.791 por tonelada registrado em outubro.

O valor ainda está distante dos melhores tempos, antes do embargo da Rússia ao produto brasileiro. Em novembro do ano passado, o preço médio da carne suína era de US$ 2.416 por tonelada. Em todo o caso, a reação observada em novembro é motivo de alívio, tendo em vista que na maior deste ano as indústrias de carne suína do Brasil trabalharam com rentabilidade negativa.

Considerando apenas as exportações de carne suína do Brasil à China, o aumento de preço foi ainda mais expressivo. De acordo com dados da Secex compilados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o preço médio da carne suína in natura exportada pelos frigoríficos brasileiros ao país asiático subiu 7% entre outubro e novembro, de US$ 1,82 o quilo para US$ 1,95.

Ao Valor, o executivo de uma das maiores agroindústrias brasileiras disse que a alta dos preços é explicada por dois fatores. De um lado, a demanda por carne suína no mercado interno é tradicionalmente mais forte no fim de ano, o que tem reflexos na formação do preço de exportação. Além disso, acrescentou, já existem "movimentos especulativos" de importadores tentando se posicionar para o cenário de menor oferta global de carne suína em 2019.

O problema da peste suína na China não é trivial - a doença já chegou na Província de Sichuan, a maior produtora de suínos do país. Os asiáticos lideram a produção e o consumo da proteína no planeta, respondendo por cerca de 50% da oferta mundial.

Se a produção da China cair 10%, como projeta o Rabobank, o país perderá 5 milhões de toneladas. Esse volume equivale a mais da metade do que é exportado anualmente pelos países produtores, afirmou recentemente, durante evento em São Paulo, o economista e sócio-diretor da consultoria MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros.

A redução da oferta chinesa é de tal monta que será impossível para o mundo atender à demanda apenas com carne suína, afirmou o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin. "Vai ter um processo de substituição inclusive para as aves", disse, sinalizando que os exportadores de carne de frango também deverão ser favorecidos pela crise sanitária no país asiático.

Na agroindústria brasileira, o otimismo é tamanho que já há quem projete um déficit na oferta de carne suína em 2019. Seria uma reversão completa do atual cenário, marcado por excedente de oferta. "Apostaria que teremos déficit. Rússia e China precisarão de nós", disse um executivo de uma agroindústria, ressaltando a necessidade do país asiático diante dos problemas sanitários.

No caso da Rússia, a esperança é que a flexibilização do embargo, anunciada no mês passado, seja apenas o início de uma abertura maior. Desde 1º de novembro, quatro abatedouros de suínos - dois da Alibem, um da Aurora e um da Adelle - podem exportar à Rússia. O número é restrito se comparado aos 18 frigoríficos que podiam exportar aos russos antes do embargo, que começou em dezembro de 2017.

De toda maneira, a avaliação é que Moscou aos poucos vai liberar mais unidades para evitar um choque de preços decorrente da escassez do produto na China. Segundo Santin, da ABPA, as unidades que foram autorizadas a exportar para a China já podem provocar um "desvio" de cerca de 5 mil toneladas mensais de carne suína. Essa competição entre China e Rússia é positiva para o exportador do Brasil.

Diante do cenário previsto, os frigoríficos brasileiros devem registrar melhores margens - e positivas. Isso porque, além de contarem com uma demanda crescente devido ao surto de peste suína africana na China, os exportadores de carne suína do país devem ser beneficiados por custos de produção mais baixos. A colheita de uma safra recorde de grãos no em 2019 deve beneficiar a suinocultura brasileira.

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Fonte: Valor Econômico

9. SC responde por 56% das exportações brasileiras de carne suína

Grande produtor de carnes, Santa Catarina amplia sua presença internacional e já responde por mais da metade das exportações nacionais de carne suína. Em novembro, de toda carne suína exportada pelo Brasil, 56% tiveram origem no estado. A preferência internacional pelo produto catarinense é explicada pela excelência sanitária dos rebanhos e pela atenção especial dada à sanidade agropecuária em Santa Catarina.

Único estado brasileiro livre de febre aftosa sem vacinação, Santa Catarina construiu uma imagem internacional e conquistou o acesso aos mercados mais competitivos do mundo. “O agronegócio de Santa Catarina está muito conectado com o mercado global. Os mercados internacionais dão preferência aos produtos catarinenses pela qualidade, segurança sanitária e organização da cadeia produtiva. Hoje, Santa Catarina consegue atender contratos em qualquer lugar do mundo”, ressalta o secretário da Agricultura e da Pesca, Airton Spies.

Em novembro, Santa Catarina embarcou 32,1 mil toneladas de carne suína – um aumento de 61% em relação ao mesmo mês de 2017. O faturamento com as exportações chegou a US$ 58,2 milhões - 33,6% de crescimento. Os valores representam 56% da quantidade e do valor obtido nas exportações nacionais de carne suína.

O incremento nas exportações catarinenses pode ser explicado porque grande parte dos compradores aumentou o volume importado em novembro. A China – maior importador da carne suína produzida no estado – adquiriu 9,6 mil toneladas do produto, 295,5% a mais do que em novembro de 2017. O mesmo aconteceu com o Chile, Hong Kong, Argentina e Angola, por exemplo.

Acumulado do ano

Maior produtor nacional de carne suína, Santa Catarina já exportou um terço da produção esperada para 2018. De janeiro a novembro, foram 297 mil toneladas exportadas, com uma receita de US$ 554,2 milhões. O estado já responde por 51,2% do total exportado pelo país em 2018.

A China vem se consolidando como o principal destino da carne suína catarinense. Ao longo do ano foram 104,8 mil toneladas enviadas ao país asiático – um aumento de 188,5% em relação ao mesmo período de 2017. Os embarques para o país asiático representam um faturamento de US$ 200,5 milhões – 36,2% das receitas oriundas das exportações catarinenses do produto em 2018.

De acordo com o engenheiro agrônomo do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), Alexandre Giehl, as perspectivas são bastante positivas para o próximo ano, tanto em função do fim do embargo russo, quanto pela possibilidade de aumento ainda mais significativo das importações chinesas.

Competitividade

A sanidade agropecuária se tornou o grande diferencial de Santa Catarina. Com um déficit no abastecimento de grãos de quatro milhões de toneladas por ano, o estado se mantém competitivo pela excelência sanitária dos seus rebanhos.

“Nós perdemos competitividade ao trazer milho de longe para abastecer nossa cadeia produtiva de carnes, o que aumenta os custos da produção, porém pela qualidade e garantias sanitárias nós temos a preferência do mercado internacional. Santa Catarina conquistou o acesso aos mercados Premium como Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul”, destaca Airton Spies.

Os números foram divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e analisados pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa).

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Fonte: Sec. de Agricultura de SC/Notícias Agrícolas

Agroenergia

10. Etanol importado age como regulador do caixa das empresas e não regulador da oferta, como dizem

As compras de etanol dos Estados Unidos vão continuar mantendo o principal produtor mundial do biocombustível como o maior importador mundial. Num ano que não faltou produto nas usinas e o dólar passou a maior parte do tempo mais caro, a vantagem de buscar o renovável de milho se explica não apenas pela vantagem que o preço da matéria-prima transfere, mas aos ganhos gerados na distribuição interna.

Não fosse assim, o etanol internado no Nordeste em maior quantidade, sob argumento de regulador de uma oferta desajustada para a demanda em 2 bilhões de litros, mais ou menos, deveria chegar mais competitivo à bomba. Mas não.

Os importadores, que são as maiores distribuidoras, também players do etanol de cana, quando muito fazem do etanol de milho o regulador de seus caixas.

O Brasil já ultrapassou os 1,5 bilhão de litros de importação até novembro - 137,6 mi/l comprados no mês, mais 177% sobre novembro de 2017 -, e deve fechar o ano com 1,7 bi/l aproximadamente. Até outubro, com importações de 1,46 bi/l, 1,1 bi/l ficaram no Nordeste e Norte. Proporção que deve se manter até final de dezembro.

Já etanol do Centro-Sul que será transferido para a região, pagando um frete até maior de cabotagem da parte que vai de São Paulo e Paraná do que o frete dos Estados Unidos, deverá estar na casa dos 1 a 1,1 bi/l. Lembrando que boa parte do etanol que chega aos nordestinos é de Goiás, naturalmente com custo logístico mais amigável.

Mesmo que houvesse uma transferência maior do Centro-Sul, que suprisse as importações, não haveria falta nos maiores centros consumidores. Mesmo com consumo alto este ano, os maores estados produtores vão conseguir carregar estoques consideráveis para a entressafra.

Mesmo à beira de pagar imposto de importação de 20% por ultrapassar a cota de trimestral de 150 mi/l, trata-se de um bom negócio. Mesmo agora, com a safra do Nordeste a pleno vapor, com o etanol local mais competitivo, e com produção melhor que do ciclo anterior. Alguma coisa como 2 a 2,1 bi/l.

Margem da distribuição é algo guardado a sete chaves. Pode chegar até 15% em algumas regiões. E são manobradas de acordo com o momento, segundo deixa transparecer o sindicato do postos, retardando o repasse da queda dos preços seja da gasolina na refinaria ou do etanol na usina.

O valor gasto com importações em novembro foi de US$ 55,4 milhões, ao preço médio de US$ 402 o metro cúbico, 4% acima de outubro. O Brasil vai ter superávit.

Mas não é isso que conta, afinal, por ser um corrente de comércio desprezível.

Mesmo o País importando 8% na comparação com a janeiro a novembro de 2017, é um volume bastante razoável. Tira estímulo dos produtores especialmente nordestinos, como já disse aqui Renato Cunha e Pedro Robério, presidentes dos sindicatos das indústrias de Pernambuco e Alagoas, e é uma bola nas costas do setor às vésperas do RenovaBio.

Mas é do jogo, naturalmente, e isso não se discute. Até que a Camex possa renovar o imposto de importação ou rever a política de cota X i.i. zero/trimestre.

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Fonte: Notícias Agrícolas

11. João A. F. de Abreu, vice-presidente da Raízen, será o novo diretor-presidente da Rumo

A Rumo comunicou ao mercado nesta sexta-feira (7) que o executivo João Alberto Fernandez de Abreu será o novo diretor-presidente da companhia a partir de 1º de abril de 2019. Ele foi eleito para suceder Julio Fontana.

“Julio Fontana permanecerá no cargo até a data mencionada, e continuará a prestar serviços para a Rumo até novembro de 2019, assegurando uma transição dentro do planejado”, destaca a empresa em fato relevante.

Adicionalmente, Julio Fontana também ocupará o cargo de presidente do Comitê Operacional da Rumo e membro de seu Conselho de Administração, participando de todas as decisões estratégicas e operacionais relevantes.

Atualmente, João Alberto Fernandez de Abreu é vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen Energia S.A. e membro dos conselhos das empresas: Iogen Energy, WX Energy e CTC – Centro de Tecnologia Canavieira. Trabalhou por 18 anos no grupo Shell, ocupando diversas posições no varejo no Brasil, Inglaterra e Argentina.

Em 2012, Abreu se tornou diretor de Bioenergia e Tecnologia do negócio de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen Energia. Dois anos depois, assumiu a diretoria executiva agroindustrial e se tornou vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bionergia, coordenando mais de 23 mil funcionários nas 26 usinas de cana-deaçúcar.

Ele é formado em Engenharia Mecânica e de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e possui MBA pela Fundação Dom Cabral.

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Fonte: Nova Cana/Info Money

12. São Martinho e Cosan anunciam cisão das operações da Usina Santa Luiza

A São Martinho S.A. divulgou fato relevante para comunicar cisão total e incorporação das parcelas cindidas da Usina Santa Luiza S.A. (USL) pela companhia e pela Cosan S.A. Segundo comunicado, a USL tem como atividade principal o armazenamento em geral, sendo atualmente uma sociedade não operacional entre as duas empresas. O custo, estimado em R$ 150 mil, inclui despesas para publicações e pagamentos de profissionais envolvidos na operação.

A cisão, de acordo com o documento, se justifica “na medida em que a USL deixou de ser uma empresa operacional e sua cisão total e subsequente incorporação das parcelas cindidas visa segregar de forma eficiente seu acervo patrimonial líquido em cada uma de suas acionistas, reduzindo custos administrativos”, informa.>

Pela divisão, 66,67% da USL será assumida pela São Martinho e 33,33% pela Cosan, “assim como os adiantamentos para futuro aumento de capital. A São Martinho ainda incorporará todos os demais ativos e passivos conhecidos da USL”, que será extinta.

As operações agrícolas e industriais da antiga usina localizada em Motuca (SP) foram adquiridas em 2007 pelas duas gigantes do setor sucroenergético por R$ 179,3 milhões à época. Na prática, as companhias buscavam o aumento de oferta de cana-de-açúcar para a moagem em usinas de suas propriedades próximas à USL, com uma área de 19 mil hectares da cultura. Ao longo dos anos, a parte industrial foi fechada, os canaviais incorporados pelas empresas e as únicas operações mantidas foram de armazenamento.

No mesmo comunicado, a São Martinho informou que incorporou a Pulisic, uma subsidiária integral da São Martinho, que também será extinta. “Sua incorporação permitirá a utilização mais eficiente dos ativos, gerando maior eficiência, sinergia e racionalização dos custos administrativo-financeiros”. O custo da operação é estimado em R$ 100 mil.

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Fonte: Agência Estado/Nova Cana

Grãos e Grandes Culturas

13. Bunge anuncia saída do CEO global Soren Schroder

A Bunge, uma das maiores tradings de commodities agrícolas do mundo, anunciou nesta manhã a saída de seu CEO global, Soren Schroder. A saída do executivo do comando da companhia americana já era especulada desde o fim da semana passada.

Em comunicado, a Bunge afirmou que Schroder permanecerá no cargo até que seu sucessor seja escolhido. O conselho de iretores da empresa formou um comitê especial para a escolha do futuro CEO.

A ação acontece cinco semanas depois que acionistas ativistas da Continental Grain e o fundo de hedge DE Shaw chegaram a um acordo com a companhia, o que culminou na entrada de quatro novos diretores e desencadeou uma revisão estratégica da empresa. A revisão está sendo presidida por Paul Fribourg, chefe da Continental e um antigo investidor em alimentos e agricultura.

Além da mudança no comando, Kathleen Hyle, que já atuava como membro do conselho de diretores da Bunge desde 2012, foi nomeada para assumir o comando imediato do colegiado, no lugar de L. Patrick Lupo.

Hyle participará do comitê especial de busca do futuro CEO, juntamente com outros membros do conselho como Paul Fribourg, J. Erik Fyrwald e Mark Zenuk.

“Foi uma honra servir como CEO da Bunge”, disse Schroder. “Estamos fazendo progressos sólidos e este é o momento certo para mudança de liderança. A Bunge tem um forte legado e um futuro promissor à frente”.

Schroder, de 57 anos, entrou na Bunge em 2000 e exerceu diversos papéis de liderança no segmento de agronegócios na América do Norte. Ele assumiu o posto de CEO em 2013.

Conforme fontes ouvidas pela imprensa americana, a saída do executivo poderia destravar a retomada de conversas com possíveis compradores. Isso implicaria, por exemplo, numa reaproximação tanto da Glencore como da ADM, que já tiveram conversas com a múlti americana sobre uma possível aquisição entre 2017 e o início deste ano.

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Fonte: Valor Econômico

14. Fundecitrus eleva estimativa para a safra de laranja

O Fundo de Defesa da Citrucultura (Fundecitrus) elevou em 0,88% sua estimativa para a colheita de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro nesta safra 2018/19 para 275,75 milhões de caixas de 40,8 quilos. Em setembro, a projeção era de 273,34 milhões de caixas.

Se a nova previsão se confirmar, a produção de laranja no maior parque citrícola do mundo será 31% menor que em 2017/18, quando a colheita foi recorde (398,35 milhões de caixas).

A principal razão para o ajuste para cima do volume de 2018/19 é o regime de chuvas. Depois da seca que se instalou em todo o parque citrícola de maio a julho, com estiagens de 45 a 70 dias, as chuvas voltaram a ocorrer em agosto, continuaram dentro da normalidade no decorrer de setembro e se intensificaram em outubro e novembro, diz o fundo, que é mantido com contribuições de indústrias e produtores.

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Fonte: Valor Econômico

15. EUA voltam a oferecer subsídios condenados na OMC a cotonicultor

Os Estados Unidos voltaram a tornar o algodão elegível a receber subsídios a partir de dois modelos de apoio condenados na Organização Mundial do Comércio (OMC) em disputa aberta pelo Brasil na década passada. Esse “retorno” deverá ser consolidado no texto final da nova “Farm Bill”, a lei agrícola americana, que será conhecido nos próximos dias. E poderá resultar em uma ajuda de pelo menos US$ 3 bilhões em dez anos aos cotonicultores do país.

Em entrevista ao Valor, Joseph Glauber, que durante anos foi negociador americano e entre 2008 e 2014 ocupou o cargo de economista-chefe do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), considerou ser especialmente importante o fato de o Congresso dos EUA reintroduzir subsídios atrelados a preços, com programas do tipo dos que os juízes da OMC concluíram terem contribuído para prejuízos expressivos no mercado mundial de algodão. E, entre analistas, há dúvidas sobre a disposição do presidente eleito Jair Bolsonaro de questionar o incremento do apoio do governo americano.

Em setembro de 2002, o Brasil denunciou os EUA na OMC com o argumento de que várias linhas de subsídios para o algodão americano turbinavam ilegalmente produção e exportação, deprimiam os preços internacionais e causavam prejuízos aos produtores brasileiros. Quase três anos depois, o Brasil venceu o contencioso. Em 2009, a OMC autorizou o Brasil a retaliar os EUA em mais de US$ 800 milhões por ano, por entender que Washington tinha revisado apenas parcialmente os programas condenados pelos juízes do órgão.

Em vez de retaliação, Brasil e EUA assinaram, em 2010 e em 2014, acordos para pôr fim ao contencioso. Em uma mudança em sua política agrícola, Washington tornou o algodão “upland”, comum nos dois países, inelegível a receber subsídios pelos novos Price Loss Coverage (PLC) e Agricultural Risk Coverage (ARC), mas deixou de continuar alterando outros programas. Em troca, Washington pagou no total mais de US$ 700 milhões de compensação para cotonicultores brasileiros.

A “Farm Bill” aprovada em 2014 previa para os produtores de algodão apenas programas de seguro suplementar de colheita e de empréstimo preferencial pré-colheita, chamados de Stacked Income Protection Plan (STAX) e Marketing Assistance Loan (MAL). Mas, desde 2014, os cotonicultores americanos já se mostravam insatisfeitos com sua situação econômica por causa da queda de preços da commodity, e sempre reclamavam que a ajuda por meio do STAX era insuficiente.

O acordo entre Brasil e Estados Unidos vigorou até setembro passado. Mas parlamentares americanos, após várias tentativas nos últimos anos, aprovaram já em fevereiro a Lei Orçamentária Bipartidária 2018 com emendas à “Farm Bill” de 2014. E o algodão (“seed cotton”, que abrange tanto a fibra quanto a semente do algodão) foi incluído como uma das commodities que podem se beneficiar dos programas PLC e ARC a partir da colheita deste ano. Em troca, os produtores devem renunciar à participação no STAX.

A consolidação dessa mudança virá agora com a nova “Farm Bill”. Havia diferenças nas propostas do Senado e da Câmara dos Representantes, como um “acelerador” que poderia aumentar o apoio aos cotonicultores, e analistas americanos não têm dúvidas de que o algodão será beneficiado. Tanto o Price Loss Coverage (PLC) quanto o Agricultural Risk Coverage (ARC) podem distorcer o comércio, pois são vinculados a preços. Nos dois casos, é estabelecido o pagamento da diferença entre os valores de referência e os valores de mercado, caso estes sejam menores. Suas provisões são semelhantes, no geral, às de outras culturas, como milho, trigo e soja. Uma diferença é a construção do preço baseado nas cotações do algodão em pluma e da semente de algodão.

“Na medida em que os Estados Unidos implementaram o programa de algodão em caroço para a safra de 2018, isso poderia potencialmente violar os termos do acordo”, observa Joseph Glauber, que atualmente é pesquisador sênior do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI), em Washington. Ele aponta como ainda mais relevante a reviravolta na política agrícola americana de reduzir distorções nesse segmento.

“Embora os desembolsos esperados para o novo programa (“seed cotton”) sejam relativamente modestos, há uma probabilidade significativa de grandes gastos em caso de preços baixos do algodão'', afirma. Glauber nota que as previsões para os desembolsos ao algodão nos EUA sob o novo programa sugerem pagamentos bem menores do que os gastos durante o período original de investigação na disputa do algodão (1998-2004), mas há algo a monitorar. “A questão é se esses subsídios distorcem a produção e o comércio e resultam em preços mundiais mais baixos que afetam o Brasil e outros produtores de algodão”, diz ele.

O Congressional Research Service (CRS) do Congresso americano fez projeções de custos com a volta do algodão aos subsídios dos programas PLC e ARC. Em fevereiro, os valores foram estimados em US$ 1,27 bilhão em cinco anos (2018- 2022) e em US$ 2,961 bilhões em dez anos (2018-2027). Mas o custo líquido poderia diminuir para US$ 61 milhões em dez anos, no caso de cortes em outros tipos de subvenções. No entanto, dois meses depois, em abril, o CRS fez uma nova projeção. E a conclusão foi de um custo até 59% maior, por volta de US$ 2,015 bilhões em cinco anos (2018-2022).

Para Randy Schnepf, especialista do CRS, a mudança de política para o algodão poderá ter implicações nos mercados doméstico e internacional. Mas ele observa que qualquer dano não será determinado antes do fim de 2020, já que os pagamentos pelo “seed cotton” não serão efetuados antes de outubro de 2019 e só reportados ao USDA a partir do fim do ano ou do começo do ano seguinte.

Pedro de Camargo Neto, que quando estava no Ministério da Agricultura brasileiro preparou a denúncia contra os EUA na OMC, considera que o Brasil deveria ter retaliado os americanos em vez de ter feito o acordo pelo qual recebeu mais de US$ 700 milhões. Isso era só uma parte do prejuízo sofrido pelos produtores brasileiros. “O pessoal do algodão (no Brasil) vai se arrepender de ter feito aquele acordo, porque os EUA não mudaram a lei inteira e o prejuízo continuou”, afirma. “Os produtores brasileiros receberam uma montanha de dinheiro dos EUA, mas não conseguem usar porque as cláusulas americanas são muito restritivas. E agora vão voltar a enfrentar mais subsídios”, disse.

Indagado sobre o desenrolar dessa situação, Camargo Neto retrucou: “Você imagina um contencioso com Bolsonaro e Trump?”.

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Fonte: Valor Econômico

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