Aide Memoire N° 1690 | 28 de fevereiro
- Por: Juliane
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CARLOS GERALDO LANGONI
ECONOMIA EM TRANSIÇÃO
Os dados do PIB de 2018 confirmam ritmo lento de expansão – apenas 1,1%, permanecendo no mesmo patamar de 2017. O PIB per capita apresentou modesto avanço em termos reais (0,3%).
Ou seja, a saída da recessão tem sido gradual, refletindo a combinação de incertezas políticas e desequilíbrios internos.
Há, entretanto, fatos positivos: todos os setores voltaram para o terreno positivo, ainda que em velocidades distintas, e a liderança do crescimento passou do consumo para o investimento.
· PIB:
A expansão foi mais forte nos serviços, seguido da indústria que ainda enfrenta dificuldades. O crescimento da agropecuária foi bem limitado devido ao patamar elevado alcançado no ano anterior.
Do ângulo da demanda, o destaque é a forte retomada dos investimentos, mesmo com a existência de margens de capacidade ociosa em vários segmentos.
Como era de esperar, o consumo das famílias reage com defasagem, impactado pela fragilidade do mercado de trabalho.
A taxa de desocupação, no trimestre encerrado em janeiro de acordo com a PNAD contínua, permanece na faixa de dois dígitos (12%), com a criação de emprego dependendo desporporcionalmente da informalidade.
Esta insegurança em relação ao futuro funciona como freio para o consumo privado, que é também limitado pela lenta recuperação dos rendimentos em termos reais (+0,8%).
· Expectativas:
O mercado estima aceleração ainda moderada do PIB este ano. Esse melhor desempenho reflete o comportamento favorável dos índices de confiança calculados pela FGV nos primeiros meses do ano.
O principal fator é a queda na componente política do risco-país: os spreads do Credit Debt Swaps (CDS) de 10 anos já estão flutuando abaixo dos 300 pontos-base.
Essa percepção favorável do ambiente de negócios será alavancada com a aprovação da reforma da Previdência, desde que não haja perda significativa de musculatura fiscal.
Há, ainda, a contribuição da inflação bem comportada e com expectativas ancoradas que facilitam ganhos reais de salários mais significativos.
Esse fator, combinado com a oferta mais generosa de crédito a juros declinantes, deve estimular a demanda por bens duráveis, além de beneficiar a retomada da construção civil.
· Ajuste:
O bem-sucedido ajuste externo é outro vetor-chave para o maior dinamismo da economia.
O déficit em conta-corrente permanece estável (0,78% do PIB em janeiro), sendo financiado confortavelmente por capitais de longo prazo.
A modernização dos marcos regulatórios em setores-chave da infraestrutura, como energia e logística, deve atrair fluxo expressivo de investimento direto estrangeiro.
É alta a probabilidade do IDE superar a marca de US$ 100 bilhões este ano, ajudando a elevar a taxa de investimento do nível atual de apenas 15,8% do PIB.
A solidez das contas externas é essencial para absorver tensões na economia mundial, que já se refletem em desaceleração do comércio internacional de acordo com indicadores da OMC.
Contribui também para minimizar a volatilidade da taxa de câmbio que, aliás, deve retomar viés de apreciação após a aprovação pelo Congresso da reforma da Previdência.
Em resumo, o crescimento do PIB em 2018 de apenas 1,1% foi frustrante, refletindo o peso da onda de incertezas.
Para este ano, a expectativa é de ritmo mais forte, principalmente no 2º semestre, quando as dúvidas em relação à viabilidade da reforma estarão dirimidas.
Nesse cenário básico, pode-se estimar salto no PIB potencial para novo patamar de 2,5 / 3%, amplificado pela resposta positiva dos planos privados de investimento ao choque liberal.