CARLOS GERALDO LANGONI

HERANÇA BENDITA

Em meio à onda de incerteza, o comportamento da inflação é importante exceção. Tanto os preços correntes como as expectativas mantêm-se abaixo da meta oficial.

Índices:

Apesar da alta do IPCA em março e abril, que desviou o índice corrente (4,94%) da meta oficial, as projeções do Focus continuam apontando para inflação de 4% neste e no próximo ano.

Com as expectativas ainda ancoradas, o Banco Central teria, aparentemente, graus de liberdade para flexibilizar a política monetária.

Seria importante instrumento para romper a letargia da atividade econômica, com as projeções do PIB desacelerando para apenas 1,5% este ano.

As vendas no varejo, com expansão na margem de apenas 0,3% em março, confirmam o ritmo lento da atividade econômica, afetado pelo alto nível de incerteza e fragilidade do mercado de trabalho.

BC:

O COPOM, entretanto, manteve a SELIC no patamar de 6,5%, a mesma desde março de 2018.

Essa posição ortodoxa faz sentido: é preciso aguardar a consolidação da âncora fiscal com a definição precisa do impacto da reforma da Previdência sobre o déficit público.

Só a partir daí será possível traçar, de forma consistente, a trajetória da política monetária no curto prazo: talvez haja margem no 2º semestre, para algum corte nas taxas básicas sem contaminar negativamente as expectativas inflacionárias.

É interessante notar que o mercado projeta o contrário - alta moderada na SELIC em 2020. Implícita está a hipótese de ajuste fiscal apenas parcial, limitando o espaço do Banco Central.

Riscos:

No balanço de riscos a perspectiva é de queda gradual da componente política, mas elevação das incertezas externas.

O FMI vem alertando para o desaquecimento sincronizado da economia mundial. O cenário externo pode se complicar com o insucesso das negociações bilaterais entre Estados Unidos e China.

Retaliações recíprocas abalariam as bases, já frágeis, do comércio internacional, podendo levar o PIB global a uma descontinuidade recessiva.

Para o Brasil, este timing é crítico: com a agenda de reformas macro sendo implementada e foco em competitividade, são boas as chances de decolagem no último trimestre.

Essa recuperação será mais expressiva caso conte com os ventos favoráveis da economia internacional.

Em resumo, inflação baixa com expectativas ancoradas é um dos poucos fatores positivos herdados pela equipe econômica.

Esse ambiente favorável facilita a retomada, mesmo sem muito espaço, no curto prazo, para a flexibilização monetária: o BC, entretanto, manteve seu viés conservador e optou por manter a SELIC em 6,5%.

A implementação da agenda de reformas ganha senso de urgência com o aumento da componente de risco externo.

A guerra comercial poderá transformar a desaceleração gradual da economia mundial em ameaçadora descontinuidade recessiva.

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