CARLOS GERALDO LANGONI

A ERA DA INCERTEZA

O índice de incerteza calculado pela FGV apresentou forte alta em abril, voltando ao patamar pré-eleições.

É o resultado, principalmente, do estresse político gerado pelo teste de governabilidade com a tramitação no Congresso da reforma da Previdência.

· Emprego:

Esta piora na percepção de risco trava a atividade: o setor serviços, intensivo em mão-de-obra, recuou pela terceira vez consecutiva em abril.

A produção industrial também apresentou queda em março, empurrando a taxa em 12 meses para a estagnação (-0,1%).

O único segmento que apresentou expansão na margem foi bens de capital, sugerindo que há sinais de retomada a médio prazo.

Neste ambiente de negócios negativo não chega a surpreender a elevação na taxa de desocupação para 12,7% no trimestre encerrado em março.

Causa também preocupação a estabilidade no rendimento médio real, apesar dos níveis baixos de inflação.

A consequência é a reversão dos níveis de mobilidade e piora na desigualdade que aumentam as tensões sociais e políticas.

É a herança maldita da recessão de 2014 / 2016: a saída tem sido lenta e gradual, apesar dos níveis historicamente baixos da taxa básica de juros.

· Estímulos:

Por outro lado, o Governo perdeu graus de liberdade na política fiscal. Numa primeira fase, ela tem que ser restritiva, como exemplifica o corte planejado nos subsídios que atingiu cerca de 4,3% do PIB ano passado.

No curto prazo, o foco é reverter o fluxo de deficits primários, através de medidas pontuais - recursos do BNDES e cessão onerosa.

· Micro:

A retomada nesta fase de transição fica na dependência de mudanças nos marcos regulatórios que destravem investimentos.

Exemplo importante é a liberalização do mercado de gás que pode alavancar novos investimentos em setores-chaves como siderurgia, petroquímica e fertilizantes.

É possível também corrigir distorções que limitam o mercado de crédito e medidas que desburocratizam o ambiente de negócios.

O grande estímulo virá da reforma tributária, com a redução prevista nos impostos sobre o lucro das empresas e folha de pagamentos.

· Take Off:

Parece claro que a economia brasileira mantém, no curto prazo, trajetória de relativa estagnação.

As projeções do PIB para este ano estão com viés de baixa apontando para 1,7%. A decolagem só deve acontecer no 2º semestre, quando o ruído político baixar com a nova ancoragem fiscal e simplificação tributária.

Na sequência virá a onda de concessões e o início da abertura da economia. Só assim será possível viabilizar o salto no PIB potencial e reencontrar nova trajetória de crescimento sustentado.

Em resumo, a alta no desemprego reflete a desaceleração na atividade. Houve recuo nos serviços e na indústria, refletindo a contaminação das tensões políticas.

A reversão deste quadro, no curto prazo, parece difícil: não há mais espaços para medidas artificias com DNA populista.

A retomada do crescimento depende de um choque positivo de expectativas, cujo fator chave é a aprovação da reforma da Previdência.

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