Aide Memoire N° 1720 | 04 de outubro
- Por: Juliane
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CARLOS GERALDO LANGONI
RETOMADA GRADUAL
O crescimento da produção industrial em agosto de 0,8% na margem pode indicar retomada gradual da atividade a partir deste 2º semestre.
Cenário:
Essa nova tendência precisará ser confirmada nos próximos meses. Chama a atenção o fato de a expansão estar concentrada nos produtos intermediários.
Houve contração nos bens de capital e de consumo, apesar da melhora na confiança empresarial.
Em função dessas assimetrias, a taxa em 12 meses permanece no terreno negativo (-1,7%).
De qualquer forma, as vendas de veículos avançaram de forma expressiva, estimuladas por condições mais favoráveis de financiamento e sinais de recuperação no mercado de trabalho.
Riscos:
Além dos fatores internos, como a perda de potência fiscal da reforma da Previdência no Senado, a maior ameaça vem das incertezas globais.
A OMC revisou para baixo as projeções do comércio internacional este ano. A onda protecionista já esta provocando forte desaceleração: o crescimento deverá situar-se na faixa de 1,2%, a metade do ritmo observado ano passado.
Ou seja, o comércio deixou de ser alavanca do PIB global e passa a ser importante canal de desaquecimento.
A ameaça de recaída recessiva tornou-se ainda mais real com a queda significativa da atividade industrial nos Estados Unidos.
Isso ocorre, apesar dos generosos estímulos fiscais do governo Trump e dos recentes cortes nos juros básicos pelo Fed.
Balança Comercial:
Para o Brasil, a fragilidade da economia mundial limita o papel das exportações no esperado ciclo de expansão.
De fato, no período janeiro-setembro, houve forte contração (-6%) nas vendas externas, restringindo o saldo comercial.
A queda é generalizada, atingindo todas as categorias de produtos. O impacto, porém, foi desproporcional para os manufaturados em razão da crise argentina.
Ou seja, ao contrário de outras situações em que as exportações facilitaram a recuperação da indústria, este não parece ser o cenário atual.
Em resumo, alguns indicadores sugerem o reaquecimento gradual da atividade doméstica.
Parece estar ocorrendo mudança nas fontes de incerteza: até recentemente, a origem era interna com papel relevante da componente política.
Nos próximos meses, tende a aumentar o vetor externo, refletindo a deterioração do cenário global.
A resposta a esse sinal amarelo deveria ser avançar e aprofundar o ajuste interno. O Congresso, entretanto, emite sinais contraditórios ao enfraquecer a reforma da Previdência e manter ainda em suspense a arquitetura da mudança tributária.