CARLOS GERALDO LANGONI

CENÁRIO MACRO

A deflação do IPCA em setembro pode ser vista de dois ângulos distintos: é uma benesse ao aumentar o espaço para novos cortes na SELIC.

É também indicador do ritmo ainda lento de retomada da atividade.

Inflação:

A desacelaração nos preços foi generalizada, indo além de componentes transitórias como alimentos.

Atinge também o núcleo e serviços, sugerindo que este novo piso (2,89% em 12 meses) tem características mais duradouras.

Com a inflação corrente em níveis confortáveis - bem abaixo da meta (4,25%) - e expectativas para o próximo ano ancoradas, o BC deve reduzir novamente em 50 pontos-base a taxa básica no fim deste mês.

Essa flexibilização monetária não deve ser alterada em razão do viés de desvalorização cambial associado às tensões internacionais.

O FMI voltou a alertar que a economia mundial já vive um processo de desaquecimento generalizado, citando, aliás, o Brasil entre os emergentes.

Atividade:

A queda adicional nos juros reais no plano doméstico é instrumento-chave para sustentar a expansão, mesmo gradual, do PIB.

As vendas no varejo voltaram a crescer modestamente pelo terceiro mês consecutivo em agosto, mantendo a taxa anual na faixa positiva. O consumo doméstico continua frágil, apesar de sinais de alguma melhora no mercado de trabalho.

Permanecem as restrições de natureza fiscal: no compasso de espera para aprovar a nova Previdência e a reforma tributária, o Governo só pode contar com ganhos extraordinários de receita.

O destaque são os leilões do pré-sal e, em particular, o excedente da cessão onerosa que devem gerar receitas extras na faixa de R$ 200 bilhões, que terá de ser partilhada com os estados.

Ajuste:

O ajuste interno irá exigir também a reforma administrativa. Estudo do Banco Mundial (ano base 2017) escancarou as desigualdades salariais entre o setor público e privado.

Este diferencial para funções homogêneas chega a quase 96% para os servidores federais e 36% nos estados. A convergência só acontece a nível municipal.

É o resultado de regras privilegiadas de estabilidade e promoção automática, além de políticas paternalistas que, durante anos, asseguraram reajustes reais significativos.

Tudo isso terá de ser modificado para viabilizar a redução da participação dos salários do setor público no PIB, hoje na faixa de 10%.

Competitividade:

Essas e outras distorções - sempre relacionadas com o nível excessivo de intervenção direta e indireta do Estado na economia - explicam a posição do Brasil no índice de competitividade calculado pelo Forum Econômico Mundial.

Estamos na 71ª posição, atrás de todos os BRICS: China 28ª, Rússia 43ª, África do Sul 60ª e Índia 68ª. Mesmo na América Latina somos apenas a 8ª economia mais competitiva.

As principais restrições são os desequilíbrios internos (relação dívida bruta / PIB muito acima da média dos emergentes), e o baixo nível de abertura comercial.

As políticas liberais do Ministro Paulo Guedes devem mudar esse cenário frustrante, alavancando o ingresso de capitais externos de longo prazo.

Em resumo, o cenário macro permanece nebuloso. Inflação em níveis historicamente baixos é fator benígno ao permitir a ativação de estímulos monetários: a SELIC caminha para níveis inferiores a 5% até dezembro.

Os spreads salarias entre setor público e privado e a pífia colocação do Brasil no ranking da competitividade ilustram a magnitude dos desafios estruturais a serem enfrentados.

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