CARLOS GERALDO LANGONI

Pós-Eleições

Com a confirmação de expressiva vitória de Bolsonaro, as expectativas devem consolidar o viés otimista. A manutenção da SELIC em 6,5% é evidência objetiva da calmaria pós-eleitoral.

O índice de confiança empresarial da FGV, em outubro, já apresentava tendência de alta, antecipando a queda da componente política do risco-país, apesar do forte recuo da produção industrial em setembro (-1,8% na margem).

• Choque:

As atenções estão voltadas para a definição do “choque liberal” e o nível de governabilidade.

Paulo Guedes será, de fato, um super-ministro: ele venceu a 1ª batalha ao manter a importante área da indústria e comércio exterior sob seu comando além, obviamente, do planejamento e da fazenda.

Sem esse rearranjo organizacional seria impossível implementar, de maneira coordenada e harmoniosa, a abertura externa e as reformas internas.

Foi importante sinal de que o Governo está disposto a enfrentar as resistências de alguns setores acomodados ao hiperprotecionismo.

• Timing:

Outra indicação relevante é a urgência em avançar na reforma da Previdência, inclusive procurando aprovar, ainda este ano, a versão Temer.

Esse é o cenário ideal: mesmo sendo necessárias novas mudanças, o impacto na percepção de risco seria expressivo e ajudaria a sustentar a onda de confiança.

O capital político do Governo poderia ser utilizado para outros aspectos críticos do programa econômico como privatizações e reforma tributária.

• Expectativas:

A melhora nas expectativas já se reflete na valorização do real que caminha para novo patamar de equilíbrio - na faixa de R$ 3,50 / US$.

O rali no Ibovespa deve se sustentar, com a viabilização das diversas etapas do ajuste fiscal, alimentado por investidores estrangeiros.

Esse ambiente de negócios otimista depende criticamente do comportamento da economia mundial - em especial do desempenho chinês, face à guerra comercial e à dosagem da normalização monetária pelo Fed.

É essencial que essa reversão de expectativas, por enquanto restrita aos mercados financeiros, chegue à economia real.

De acordo com o PNAD, a taxa de desocupação mantém-se elevada (11,9% no trimestre móvel terminado em setembro) e o salário real relativamente estagnado.

O aumento de emprego permanece limitado aos setores informais de baixa produtividade. Esse padrão de mobilidade social reprimida só será modificado com a aceleração do crescimento do PIB, atualmente no frustrante patamar de 1,4%.

• Estratégia:

A visão de Paulo Guedes é a de alavancar o setor privado com amplo processo de desregulamentação, a exemplo do que já foi feito no setor de óleo e gás.

Ao mesmo tempo, negociar, em tempo recorde, acordos de comércio e investimentos – que vão além do Mercosul, começando pela União Europeia.

Em seguida, iniciar diálogo construtivo com os Estados Unidos e China, que deve incluir transferência de tecnologia e estímulo às inovações.

Nesse modelo é o investimento privado, e não o consumo das famílias, que irá liderar o novo estágio de crescimento sustentado.

Em resumo, a vitória de Bolsonaro cria as condições para uma guinada radical na economia brasileira.

O foco é a reforma do Estado, com um amplo projeto de liberalização e abertura. A discussão sobre o uso das reservas internacionais, como instrumento complementar para reduzir a dívida interna, só faz sentido após a aprovação e implementação da agenda de reformas.

O Ministro da Economia Paulo Guedes acredita que, com a reversão das expectativas, será possível realizar o ajuste fiscal com a economia em expansão, o que consolidaria o amplo apoio popular conquistado por Bolsonaro nas urnas.

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