Clipping | Aide Memoire N° 1676 | 14 de novembro
- Por: Juliane
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CARLOS GERALDO LANGONI
Tranição Política II
Enquanto a equipe econômica vai sendo montada, aumenta a volatilidade das expectativas.
Houve reação amplamente favorável à confirmação de Joaquim Levy para a presidência do BNDES: seu perfil austero e experiência no setor público são ideais para a tarefa de enxugar a instituição e redirecioná-la para o apoio a inovações, infraestrutura e privatizações.
• Ajuste:
Será uma guinada radical em relação à estratégia fracassada dos “campeões nacionais” e subsídios a investimentos que não evitaram a descontinuidade recessiva.
Desta forma, o estresse temporário dos mercados com renovada pressão sobre o câmbio não pode ser explicado pela qualidade do time liderado por Paulo Guedes.
Há uma componente externa - a queda abrupta no petróleo com aumento da oferta orquestrada pelos Estados Unidos para compensar as sanções impostas ao Irã..
Lembrando que, no Brasil, há forte correlação entre preço das commodities e taxa de câmbio pelo seu impacto direto sobre as exportações.
No plano doméstico, aumenta o desconforto com o aprofundamento da crise fiscal nos estados e o adiamento da reforma da Previdência.
Apesar da direção consistente da nova arquitetura macro, o mercado está mais consciente dos enormes desafios de natureza política.
Não será tarefa fácil mobilizar o Congresso e convencer os novos Governadores a implementarem duros ajustes, especialmente nos gastos com pessoal.
• Atividade:
Por outro lado, os indicadores de atividade confirmam o padrão lento da recuperação. Em setembro - ainda em meio as incertezas eleitorais - houve recuo das vendas no varejo e no setor serviços.
A revisão dos planos de consumo atingiu também bens duráveis, como veículos, que vinham em trajetória de aceleração.
É possível que, com a queda do risco político e contornos mais nítidos do perfil do governo Bolsonaro, o ritmo de expansão se intensifique.
Variável chave é a dinâmica do mercado de trabalho: a taxa de desocupação permanece elevada na faixa de 11,9%.
As margens elevadas de ociosidade do setor produtivo dificultam a transformação dos níveis baixos de inflação em ganhos reais de salários.
Um dos principais objetivos do “choque liberal” é restabelecer a mobilidade social: é possível, no curto prazo, obter rápida resposta do setor de construção civil beneficiado por oferta mais generosa de crédito e juros reais significativamente mais baixos.
• Investimento:
O principal motor da economia será, entretanto, o investimento. A modernização de marcos regulatórios em áreas-chaves da infraestrutura, como saneamento e energia, é a forma eficiente para alavancar o setor privado.
Outro instrumento crítico é abertura: pesquisa do Ipea destaca o altíssimo custo para o consumidor dos níveis excessivamente elevados das tarifas de importações.
Ou seja, lado a lado com a agenda ampliada de negociações indo além do Mercosul, há espaço para redução unilateral dos níveis de proteção com impacto favorável sobre a taxa de investimento.
Em resumo, é natural antecipar maior volatilidade nas expectativas nessa fase de transição política.
A principal promessa do candidato Bolsonaro de delegar a área econômica a Paulo Guedes vem sendo cumprida rigorosamente. Está sendo formado um timaço de “Chicago Boys” reforçado com a nomeação de Joaquim Levy.
Para consolidar o viés otimista, falta alguma sinalização do Congresso - até agora na contramão - ao aprovar o reajuste do STF, antes da reforma da Previdência ou, pelo menos, da independência do Banco Central.