Aide Memoire N° 1713 | 16 de agosto
- Por: Juliane
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CARLOS GERALDO LANGONI
TENSÃO EXTERNA
Aumenta o risco de descontinuidade recessiva na economia mundial com sinais de estagnação na Alemanha e desaceleração na China.
Há ainda o efeito depressivo do Brexit e o aprofundamento da crise argentina com a derrota de Macri nas prévias.
Incerteza:
O pano de fundo para esta onda global de incertezas é a guerra comercial entre USA e China. Indicadores antecedentes da OMC confirmam ritmo lento de expansão do comércio internacional neste 2º semestre.
A inversão na curva de juros dos bonds norte-americanos, com as taxas de longo prazo em patamares mais baixas do que os papeis de curto prazo, é considerada por muitos analistas como prenúncio de novo ciclo recessivo.
O bom desempenho das vendas do varejo nos Estados Unidos em julho trouxe certo alívio aos mercados e o Fed mantém a aposta na solidez de seus fundamentos.
Impacto:
De qualquer forma, a tendência é de aumento na aversão global ao risco, com viés de baixa nos mercados acionários e pressão sobre as moedas emergentes.
Essa deterioração do cenário externo encontra o Brasil ainda na transição em direção à correção de graves desequilíbrios macro.
Não deixa de ser um paradoxo verificar que a gradual redução das incertezas internas poderá ser contaminada pelo aumento das tensões externas.
O impacto de curto prazo mais evidente é sobre o mercado de câmbio que rompeu a barreira emblemática dos 4 reais forçando a intervenção do BC, revertendo tendência de valorização pós reforma da Previdência.
Cenário:
Questão relevante é se este clima internacional hostil poderá impor restrição à política de corte de juros iniciada na última reunião do COPOM.
A médio prazo, o desafio é saber se o ritmo e profundidade do desaquecimento do PIB mundial terá força para adiar o take off brasileiro, prolongando o longo ciclo de aumento de desigualdade e desemprego.
A sequência de reformas em curso no Congresso, combinada com a modernização de marcos regulatórios como o novo mercado de gás, criam as condições para destravar o investimento privado.
Esse processo virtuoso é alavancado por concessões e privatizações que devem ganhar mais espaço nos próximos meses.
Há ainda o efeito positivo da abertura sobre a percepção de risco-país, antes mesmo do salto e diversificação das exportações que irá acompanhar o acesso a mega-mercados.
Timing:
O cenário básico é aceitar que a deterioração do ambiente externo dificulte o reencontro da economia brasileira com novo estágio de crescimento sustentado.
Em contrapartida, aumenta a pressão para avançarmos na agenda de reformas estruturais. O exemplo argentino é contundente: liberalização sem ajuste fiscal alimenta a vulnerabilidade macro.
Este foi o grande erro estratégico do governo Macri. Em contraste, reforça a escolha acertada do Ministro Paulo Guedes: foco prioritário na correção dos desequilíbrios internos e, só depois, partir com força para processos amplos de liberalização.
Em contraste com a Argentina, a solidez das contas externas brasileiras é importante amortecedor de uma eventual crise externa.
Em resumo, a deterioração da economia mundial torna mais difícil romper o ciclo da relativa estagnação. Aumenta, por outro lado, a pressão para manter a estratégia liberal fundamentada no ajuste fiscal consistente e previsível.
A continuidade das reformas e o bem-sucedido ajuste externo devem minimizar o impacto negativo das tensões internacionais.
O cenário básico é adiar, mas não interromper o reencontro com novo estágio de crescimento sustentado.